RECHEIO - A dura lição do Spotify
#️⃣ Edição 03
⏱️ Tempo de leitura: 9 minutos
O Spotify é enorme, líder e referência. Não tem como errar, não é?
Veja bem: a empresa tem mais de 381 milhões de usuários mensais, mas em outubro de 2018 era “bem” menos… 207 milhões. Sabe o que aconteceu a partir dessa data que mudou tudo? Podcasts.
O modelo de negócio do Spotify é complicado: o lucro vem dos anúncios e assinaturas, mas eles precisam pagar para gravadoras e compositores para usar suas músicas. A margem de lucro fica comprometida.
Porém, podcasts exclusivos dão a oportunidade de lucrar diretamente com a produção de conteúdo e ainda entender quais assuntos engajam. A empresa investiu US$ 230 milhões para comprar a produtora de podcasts Gimlet Media, além de US$ 100 milhões na plataforma Anchor. Mas faltava algo…
O efeito Joe Rogan
Ele tinha uma carreira bem fraquinha como ator, comediante e apresentador do UFC. Isso até dezembro de 2009, quando lançou seu podcast de entrevistas e assuntos controversos no YouTube. E atraiu muita audiência (de homens brancos, universitários, na faixa dos 24 anos). Em 2015, já era um dos mais populares do YT, com milhões de views.
Spotify tinha um problema. Joe Rogan tinha uma solução. Um negócio de exclusividade foi fechado em dezembro de 2020 por (supostos) US$ 100 milhões e todos viveram felizes para semp…
Oops
Se tem uma palavra pra definir Joe Rogan é: polêmico (e outros sinônimos menos favoráveis). E ele decidiu discutir durante o ano de 2021 sobre a efetividade das vacinas. Embora o efeito delas tenha sido mais do que comprovado e reafirmado pela OMS, o apresentador abriu espaço em seu podcast para levantar dúvidas e, de certa forma, desincentivar a vacinação.
Então 270 médicos e cientistas escreveram uma carta aberta ao Spotify expressando preocupação. A empresa não respondeu. Queria deixar um ar de “não somos responsáveis pelo conteúdo”. Mas outra figura chegou pra tornar tudo mais complicado…
Neil Young, ídolo do rock e fã de comprar briga com grandes corporações, comunicou que queria todo o seu catálogo retirado da plataforma. Nada de ter suas músicas dividindo espaço com o podcaster. No pragmatismo dos dados, a decisão não parecia difícil: Young tinha cerca de 6 milhões de ouvintes mensais na plataforma. Joe Rogan alcança 11 milhões por episódio. Young estava fora.
A propósito
O problema é que a medida de sucesso de um conteúdo não são números. Eles são um objetivo importante, claro, mas a real função dele é se conectar com os interesses e comportamento das pessoas.
O Spotify pode até estar focando nos seus milhões, mas o público quer saber mesmo é se a empresa se importa com seu impacto no mundo. O nome disso é propósito.
Agora, a empresa tenta conter danos. Anunciou que vai orientar sobre conteúdos perigosos, sensíveis e outros do tipo. O próprio Rogan afirmou que vai ser mais cuidadoso.
Mas é essa a lição que o Spotify ainda parece ter dificuldades em entender: uma vez iniciada a conversa, ela não pode simplesmente ser ignorada. Mesmo sem querer se posicionar, a empresa se posicionou. Resultado? Agora ela é o centro de uma conversa que não queria ter e não vai poder mais controlar… É o preço do “sucesso”.
RECHEADA DE INFORMAÇÃO
Toda semana, um gráfico pra você pensar…
Seguindo um pouco mais no papo que começamos na edição passada, dá uma olhada neste levantamento de “medida de sucesso”:
TÁ QUENTINHO
As principais novidades e tendências do mundo do conteúdo
O New York Times foi lá e comprou (mais uma)…
O Wordle, joguinho de descobrir palavras que virou febre no início deste ano (se não conhece, tá perdendo). Criado pelo desenvolvedor Josh Wardle como um despretensioso game para sua parceira, já gerou cópias em português e, em menos de dois meses, ultrapassou 300 mil jogadores. Tudo isso sem lucrar 1 Dólar… até agora. O NYT pagou um valor não divulgado na faixa de alguns milhões. Parte de seu objetivo de atingir 10 milhões de assinantes até 2025. Será o equivalente à palavras-cruzadas da Geração Z?
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Instagram vai ter avatares 3D…
E sim, isso faz parte da aposta da Meta (ex-Facebook Inc.) no tal do metaverso. As versões digitais dos usuários poderão ser usadas nos stories, no Messenger e nos directs. Apesar do foco ser a versão em VR da plataforma, o uso vai ser possível mesmo sem os óculos de realidade virtual. Vai ser a chance pra muita marca ter uma Magalu para chamar de sua.
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Nasceu uma nova gigante em língua espanhola…
Com a fusão das já enormes Televisa e Univision. O acordo já estava em andamento há cerca de um ano. A nova TelevisaUnivision se torna a maior detentora de programação em espanhol do mundo, com mais de 300 mil horas de conteúdo e domínio absoluto nos Estados Unidos e México. Nos planos, um serviço de streaming a ser lançado ainda neste primeiro semestre de 2022. Lembrando que a própria Netflix já anunciou investimento de milhões em programação na América Latina. O mercado local deve aquecer ainda mais.
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A Netflix quer colocar seus filhos pra dormir…
Com uma nova série de podcasts infantis narrados por personagens de suas séries. São 8 episódios de até 15 minutos onde os pequenos historinhas relaxantes. Gratuito e disponível em diversas plataformas. A gigante do streaming segue sabida na sua estratégia de engajar além do óbvio.
É CASE QUE VOCÊ QUER, @?
Então se inspire aqui nesse exemplão de conteúdo
Este site tem um jeito bem legal, visual e fácil de entender quanto de cada produto é vendido no mundo em 1 segundo. Poderia ser só um infográfico ou uma tabela de números. Mas o designer/programador Neal Argawal foi além e criou uma verdadeira experiência de conteúdo.
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Por Alberto Cataldi, head estrategista de conteúdo e jornalista. Me segue lá no Linkedinho que também compartilho coisas deste universo, além de inovação, tecnologia e memes.
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