RECHEIO — Fake demais
#️⃣ Edição 83
A Inteligência Artificial está matando o conteúdo de qualidade?
Fiquei na dúvida se o título seria uma pergunta ou uma afirmação. E tem motivo.
Enquanto alguns profissionais de marketing e conteúdo estão estudando a melhor maneira de adotar a IA na rotina, como tirar o melhor das ferramentas e a maneira mais ética de explorar conteúdos gerados artificialmente… O restante da internet não está muito preocupada com isso.
A maior e mais assustadora evidência disso está na avalanche de propagandas que usam vídeos falsos de pessoas famosas para aplicar golpes.
Está praticamente impossível navegar pelo YouTube ou pelo Facebook sem ver coisas como:
Uma reportagem (que nunca existiu) da Folha de S. Paulo mostrando uma matéria do jornal da Record (que nunca foi feita) sobre uma promoção da Smart Fit (que também é falsa).
Uma ação do Mr. Beast falando em português (!) enquanto distribui dinheiro para fãs no Natal.
Isso sem falar no vídeo da Torre Eiffel pegando fogo que circulou o mundo. Nada disso é novidade.
Olha o nível da distopia que entramos…
O Twitter (X?) foi tomado por vídeos da Taylor Swift em imagens pornográficas geradas por IA. Até a porta-voz da Casa Branca comentou em uma coletiva de imprensa.
“Estamos alarmados com os relatos da (...) circulação de imagens que você acabou de expor - de imagens falsas para ser mais exata, e é alarmante. Embora as empresas de redes sociais tomem as suas próprias decisões independentes sobre a gestão de conteúdos, acreditamos que têm um papel importante a desempenhar na aplicação das suas próprias regras para evitar a propagação de desinformação e de imagens íntimas e não consensuais de pessoas reais”
E esse é o ponto que deveríamos estar realmente discutindo.
É muito comum ouvirmos que as tecnologias não são boas nem ruins, mas o uso que as pessoas e empresas fazem delas é que determina o resultado.
Mas em uma realidade onde a internet e as plataformas digitais potencializam tudo de forma tão intensa, não acho que temos tempo para esperar para ver qual o limite do uso da IA antes que algumas pessoas sejam severamente afetadas. Os exemplos já estão bem claros.
A internet já está pior
Nosso próprio modo de consumir conteúdo já está sendo impactado negativamente. Um estudo do laboratório da Amazon Web Services AI descobriu que uma quantidade “chocante” da internet já está ocupada basicamente por conteúdo ruim traduzido por IA.
Basicamente, são enormes quantidades de páginas que são copiadas e traduzidas com baixíssima qualidade só para gerar tráfego e ganhar posicionamento no Google.
Por isso mesmo tantos resultados de busca atualmente têm entregado textos que parecem feitos por robôs, com muita repetição e pouquíssimas informações de qualidade.
Não importa o quanto o Google argumente que está trabalhando para evitar isso, a solução não está sendo tão rápida quanto o crescimento do problema.
O que podemos fazer?
Manter uma postura crítica com as plataformas é fundamental. Cobrar, apontar e pedir esclarecimentos sobre cada campanha falsa divulgada, sobre cada marca antiética atuando por lá.
Quando uma nova tecnologia se espalha velozmente, exige uma frieza de profissionais e empresas para usar com ética e responsabilidade. Isso cria uma sensação de estar ficando para trás, mas não é algo ruim.
O princípio “move fast and break things” que já foi o mantra do Vale do Silício não trouxe resultados muito positivos. Melhor tentar não repetir os erros.
RECHEADA DE INFORMAÇÃO
E só para encerrar o assunto IA na edição de hoje…
TÁ QUENTINHO
As principais novidades e tendências do mundo do conteúdo
Um copo de crise
Enquanto a news estava de férias, parecia que todo mundo só falava dos copos da Stanley e seu branding. (Eu falei deles também há algum tempo). Bom… clientes estão descobrindo que as famosas canecas contém chumbo, um elemento altamente cancerígeno. E todo aquele trabalho brilhante de comunicação de até semana passada? Sumiu. A marca não tem falado no tema em suas redes, nem respondido aos comentários. Em PR, só as respostas protocolares e técnicas (a empresa reforça que o chumbo não entra em contato com as pessoas ou as bebidas). Como eu disse na edição de tendências do ano: quer sobreviver a 2024? Seja mais E-S-Já.
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Corta pra mim!
Quem usa o CapCut teve uma grata surpresa no início do ano, quando a ferramenta lançou um recurso para reduzir vídeos longos para formato curto. Com ele, você pode transformar qualquer gravação horizontal em um Shorts ou Reels verticais. A partir daí, é possível usar os demais recursos de edição, como legendas e filtros. Facilita demais a vida e aposenta cada vez mais (de vez?) o Adobe Premiere da vida do Social Media.
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Vira pro lado
Aliás, falando em CapCut, enquanto a ferramenta da dona do TikTok está ajudando a fazer vídeos verticais, a plataforma está incentivando alguns de seus creators a produzirem no formato horizontal. A tela abaixo dá os detalhes, mas o princípio é postar conteúdos acima de 1min em formato paisagem para ganhar mais alcance. Acredito que seja só mais um dos muitos testes que o app faz para avaliar novas possibilidades. O próprio YouTube tem investido cada vez mais na verticalização dos vídeos, o que só prova que o bom engajamento está na versatilidade de formatos.
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Não vire SPAM
Chegou fevereiro e, com ele, os novos requisitos de Gmail e Yahoo. Se você não lembra (ou não viu), as duas empresas (que juntas somam mais de 40% dos clientes de email) anunciaram em outubro uma iniciativa para reduzir o número de mensagens de golpe se passando por outras contas, spams e emails de baixa qualidade. A data limite para se adequar era 1 de fevereiro. Depois disso, quem enviar comunicações fora dos novos padrões está em risco de ser classificado como spam e perder reputação. Corre que ainda dá tempo! As regras:
Autenticar os emails usando os padrões DKIM, SPF e DMARC
Manter as taxas de spam abaixo de 0,3%
Permitir que as pessoas façam unsubscribe com 1 clique
Adotar o RFC 5322, DNS reverso e conexão TLS (pergunte para a TI)
É CASE QUE VOCÊ QUER, @?
Então se inspire aqui nesse exemplão de conteúdo.
Descobri por acaso que a dona do domínio www.makeup.com é a L’oréal, centenária marca francesa de cosméticos. E a empresa não usa a URL só para fazer um redirect oportunista para o seu site institucional. É um portal cheio de conteúdos em texto, vídeo e fotos com dicas de beleza e cuidado pessoal, além de opção de inscrição em uma newsletter de dicas. Dá até satisfação de ver um funil de engajamento de conteúdo tão bem executado que poderia ser só um caça-clique de oportunidade. Parabéns!
BOCADITOS
Links rápidos para leituras demoradas.
• A Netflix está virando TV a cabo [The Verge]
• Como a ansiedade se tornou conteúdo [The Atlantic]
Obrigado pela leitura!
Esta é a newsletter RECHEIO (de volta das férias!). Toda quinta-feira, às 07h08, conteúdo que importa direto no seu e-mail.
Por Alberto Cataldi, head estrategista de conteúdo e jornalista. Me segue lá no Linkedinho que também compartilho coisas deste universo (e memes).
Quero saber o que achou! É só responder este email. Mande elogios, dúvidas e críticas.
Até a próxima!