RECHEIO — Sai do bar
#️⃣ Edição 76
PODCAST NÃO É CONVERSA DE BAR
É a definição que eu mais escuto sempre que estou em algum projeto para desenvolver um podcast. “Tem que ser como uma conversa de bar”. E eu digo que está errado por algumas razões…
Muita gente associa podcast com um tipo muito específico de formato que se popularizou ali em 2019 e 2020. Não por coincidência, bem no momento em que a pandemia elevou o número de ouvintes e produtores desse tipo de programa.
Acontece que esse formato ficou famoso por ter tanta gente produzindo. E isso aconteceu em grande parte porque, antes, o formato da vez eram vídeos de YouTube curtos e cheios de cortes — tendo talvez Casey Neistat como o maior exemplo de sucesso.
Mas essa onda foi passando e dando espaço a vídeos mais longos e envolventes. Algo mais difícil e caro de produzir, se você quiser manter o mesmo padrão de antes. E quem era YouTuber precisou se adaptar para continuar monetizando.
A solução? Um formato simples, barato e sem muitos cortes. Basicamente, algumas pessoas conversando em uma mesa. Sem roteiro, como se fosse ao vivo. Quem melhor surfou (e surfa) nessa onda é o Joe Rogan, que basicamente criou um programa na linha do que as rádios dos EUA fazem há décadas. A partir de então, dominou o YouTube.
Mas pensa aqui comigo…
YouTubers profissionais e programas de rádio dos EUA têm um desafio inicial muito importante: produzir conteúdo longo e diariamente. Sempre de forma barata e simples, senão não dá ROI.
E como esses programas produzem muita coisa muito parecida, é fundamental achar algum momento polêmico, alguma frase de impacto que possa virar corte para soltar nas redes e diferenciar. E todo mundo sabe, no bar há mais chances de um momento assim acontecer.
Sua empresa é um bar?
A não ser que você trabalhe com aperitivos & chopp geladinho, imagino que a sua marca não seja, de fato, um bar.
Você não precisa de produção diária de podcasts. Nem gerar momentos polêmicos que engajem. Muito menos sair gravando sem saber muito bem o que a conversa vai render. Você precisa do completo oposto disso.
Eu sempre gosto de fazer uma pergunta fundamental na hora de estabelecer se um podcast deve existir: qual a razão para aquelas pessoas estarem reunidas ali conversando toda semana?
O Podpah ou o Quem Pode, Pod levam conversas interessantes ao público. O papo vai acontecer mesmo que eu não escute, o que praticamente me obriga a querer ir escutar. Algo surpreendente pode acontecer.
Nem toda marca vai conseguir produzir algo assim. Então é essencial que a razão para as pessoas estarem reunidas ali seja entregar valor ao ouvinte.
Como fazer isso? Respondendo dúvidas, interagindo com a audiência, indo a fundo em temas que interessam seu público-alvo, contando histórias relacionadas aos produtos…
Todas essas coisas só podem ser bem executadas se você planejar bem os temas, estruturar bons roteiros, preparar ótimas perguntas e construir conversas que incluam quem está escutando. Afinal, se o ouvinte sentir que não é essencial nessa reunião promovida pelo seu podcast, ele simplesmente não volta. Ou vai pro bar sem você.
Aqui vão alguns podcasts muito bons feitos por marcas (que fogem do bar) pra você se inspirar:
RECHEADA DE INFORMAÇÃO
Um gráfico pra você pensar…
TÁ QUENTINHO
As principais novidades e tendências do mundo do conteúdo
Instagram está testando
Têm rolado alguns testes bem interessantes na rede social para abrir mais alternativas de conteúdos direcionados. A primeira é um feed dedicado apenas para perfis verificados. Ali, as pessoas podem ver tanto quem elas seguem quanto sugeridos. Tem tudo para ser um espaço disputado… O outro teste é de um feed dedicado apenas a posts publicados perto de você (algo que a versão chinesa do TikTok já tem). Em ambos os casos, os Stories também mudam. E pelo que alguns vazamentos dão a entender, a Meta deve testar ainda mais opções ultrasegmentadas pelos próximos meses.
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Amazon virou social
A Amazon quer transformar as experiências de compra no seu app em mais “colaborativas”, segundo seu diretor de compras. A solução é aplicar mais recursos sociais no aplicativo. Entre eles, um novo feed onde os vendedores são incentivados a postar conteúdos “em um estilo influencer”. O novo recurso Create já está disponível nos EUA e funciona como um Reels, com opções de dar like para salvar o produto nos favoritos e clicar no link para ir para a página de compra. Ou seja, quer vender bem no maior e-commerce do mundo? Trate de criar conteúdo.
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Melhor que carteira assinada
Um estudo novíssimo da FGV trouxe dados relevantes sobre a Creator Economy no Brasil. O levantamento foi feito com usuários da Hotmart e reforça como o mercado de conteúdo amadureceu e tem sustentado muita gente. Em média, os produtores de conteúdo têm recebido R$ 6.382 mensalmente. Já entre aqueles que têm a plataforma como principal fonte de renda (14,5% do total), a média sobe para R$ 11.959. No quadro abaixo, a média de salários no Brasil, onde influencers já têm recebido mais do que quem está com carteira assinada em alguma empresa (claro, considerando as devidas proporções de cada atuação). Parece que a profissão do futuro já é a renda de muita gente no presente…
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Humanos versus máquinas
O pessoal da Beam Content fez um teste: passou uma mesma tarefa para uma pessoa, para uma fornecedora e para uma ferramenta de Inteligência Artificial. Qual se sairia melhor? O briefing era simples: criar um guia para usar especialistas da empresa na produção de conteúdo, incluindo ideias, insights, entrevistas e distribuição. Você confere os resultados todos das entregas no site deles, mas eu já dou o spoiler: a IA foi bem, mas não o suficiente para superar a pessoa. E aqui eu aproveito para reforçar que usar essa tecnologia para criar textos não é o melhor… Se ela for aproveitada como assistente, é muito melhor aproveitada.
É CASE QUE VOCÊ QUER, @?
Então se inspire aqui nesse exemplão de conteúdo.
Na época em que fazia cobertura da Fórmula 1, uma das coisas que eu mais gostava ao ir nas provas era receber uma edição da The Red Bulletin. Se você não conhece, é uma publicação da Red Bull que nasceu voltada para os esportes a motor (motivada, é claro, pelas equipes que a marca tem em várias competições). Uma revista de alta qualidade, distribuída inicialmente de graça nas provas, com textos, fotos e diagramações incríveis. Com o tempo, evoluiu para uma revista de várias modalidades e um site dentro do mesmo nível de qualidade. Se hoje a gente nem pensa duas vezes ao associar uma marca de energéticos com carros de corrida, em grande parte foi um trabalho dessa publicação em construir essa história.
BOCADITOS
Links rápidos para leituras demoradas.
• Um guia para todas as transformações do conteúdo visual com a chegada da IA [Martech]
• É OK usar estranhos como conteúdo para redes sociais? [The New York Times]
• Os 3 fatores de ranqueamento no Google que realmente importam [Search Engine Journal]
Obrigado pela leitura!
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Por, Alberto Cataldi, head estrategista de conteúdo e jornalista. Me segue lá no Linkedinho que também compartilho coisas deste universo (e memes).
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