RECHEIO — TikTok nas últimas
#️⃣ Edição 89
Acabou pro Tiktok
Depois de meses de discussões, campanhas e muita desinformação, o congresso dos EUA aprovou uma proposta de lei que pode banir permanentemente o aplicativo no país. É a primeira vez que o governo americano faz algo do tipo para empresas da nova mídia e as repercussões ainda são imprevisíveis.
Mas, dado o impacto disso, a edição de hoje vai ser para falar um pouco do que aconteceu, do que está acontecendo e do que pode acontecer com o app mais engajador do mundo (pro bem e pro mal).
O que aconteceu
Desde 2020, o TikTok tem sido tema de discussões nos corredores do poder dos EUA.
A acusação é de que o app coleta e armazena dados de usuários americanos em servidores da China (verdade), onde o governo local teria acesso para usar essas informações de diversas maneiras (possível verdade), incluindo em campanhas para interferir nas eleições (ninguém tem certeza).
A teoria nunca foi comprovada, mesmo com comitês do congresso chamando executivos da ByteDance, dona do app, para depor.
Desde então, o TikTok já foi banido no estado de Montana e também nos aparelhos de qualquer membro do governo.
Hoje, o TikTok já sofre algum tipo de restrição em 23 países, com banimento total na Índia.
O movimento mais sério para a saída da empresa dos Estados Unidos aconteceu em março de 2023, quando um comitê de investimentos exteriores exigiu que a ByteDance vendesse toda a sua participação no TikTok ou seria banida do país.
Desde então, era uma questão de tempo para algo acontecer…
O que está acontecendo
A proposta de lei para banir o TikTok foi aprovada com ampla maioria no congresso. Uniu republicanos e democratas na mesma causa. Mesmo com manifestações e protestos liderados por criadores de conteúdo lutando para manter a plataforma em funcionamento no país.
O presidente Joe Biden já afirmou que, se o projeto cair na mesa dele, vai assinar e ratificar.
Mas antes, o texto precisa passar pelo senado americano, onde a discussão está mais acirrada e não há tanto consenso.
A expectativa é empurrar a ByteDance para mais perto do precipício e forçar que ela venda o TikTok para alguma empresa do país.
No Vale do Silício, o que não faltam são investidores e big techs salivando para ter acesso a toda a engenharia e dados reunidos pela rival — a exemplo do que já vimos acontecer antes com redes sociais que foram compradas, como Myspace, Tumblr e Twitter.
Mas não custa lembrar que, em todos esses casos anteriores, nenhuma das empresas acabou muito bem.
O que vai acontecer
Ninguém sabe, mas dá para imaginar.
O mercado norte-americano obviamente tem uma relevância enorme para o TikTok, sendo o primeiro lugar em usuários. Porém, trata-se do único país de língua inglesa no Top 10, e seu número em alcance de anúncios não é tão distante de outros países como Indonésia e Brasil.
Ou seja, do ponto de vista puramente mercadológico, sair dos EUA não seria um grande buraco no bolso na ByteDance.
A internet está fragmentada, lembra? Muito pouco do que é tendência ou viraliza nos EUA influencia o app em outros países.
Do ponto de vista de influência, porém, o jogo é outro. A empresa perderia totalmente as chances de construir uma marca de força global sem uma presença no país que ainda é o maior exportador (e espalhador) de fenômenos comportamentais e culturais.
A empresa, inclusive, já vinha testando uma versão do TikTok focada apenas em fotos para concorrer diretamente com o Instagram.
Mas, se a lei nova for aprovada, nenhuma plataforma ou rede social com servidores e operação localizada em países “rivais” poderia operar no país.
Não seria só o fim do TikTok, mas de qualquer iniciativa da ByteDance por lá.
O cenário mais provável atualmente é que a empresa simplesmente saia do país, sem vender a operação do TikTok para um investidor local. Com isso, o Instagram deve abocanhar grande parte do mercado, com o restante se diluindo entre YouTube e Snapchat.
Para o Brasil, nada deve mudar, já que hoje 100% dos dados de usuários de todas redes sociais e plataformas são armazenados fora do país. Por aqui, a discussão caminha mais na direção de monitoramento de conteúdos e fake news.
Mas o TikTok não vai acabar
Mesmo que ele saia dos Estados Unidos. E mesmo que o aplicativo acabe.
O comportamento que o TikTok estabeleceu (alto consumo de vídeos curtos, feed construído por algoritmos altamente personalizados, produção de conteúdos sem viés de rede social) já transformaram nossa vida online.
Hoje, nenhuma empresa seria capaz de replicar a fórmula, mesmo comprando a marca. E, embora a preocupação do uso político do app pela China não faça totalmente sentido, a preocupação com o uso dos dados de forma indiscriminada faz.
Então a pergunta talvez seja menos sobre se o TikTok vai ter fim e sim se o seu modelo de funcionamento realmente poderia durar muito mais. Pro bem e pro mal, ele é o app que transformou a forma como consumimos conteúdo online, e ainda vamos ver as consequências por alguns anos.
RECHEADA DE INFORMAÇÃO
TÁ QUENTINHO
As principais novidades e tendências do mundo do conteúdo
E o Google?
Depois da edição passada da RECHEIO, algumas pessoas vieram falar comigo sobre como o fim do Google como referência em busca está fazendo cada vez mais sentido. Enquanto isso, a Alphabet segue anunciando mudanças para melhorar os resultados de busca. A mais nova é que o uso dos Core Web Vitals serão considerados como fator de ranqueamento (antes, eram apenas boas práticas). A aplicação deles costuma ser complexa e exigir desenvolvedores mais dedicados, o que pode dificultar a vida de pequenos negócios. E já tem reports revelando que centenas de páginas já estão sendo desindexadas do Google desde o início da core update atual — inclusive, um dos sites desindexados é o do… John Mueller, o guru da busca no Google. Não é um bom sinal…
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Aprenda IA grátis
O LinkedIn liberou 250 cursos sobre Inteligência Artificial totalmente de graça. Se você não domina o inglês muito bem, pode filtrar apenas pelos conteúdos em português, com aulas como IA Generativa para líderes, IA Conversacional e Machine Learning. O foco é totalmente profissional, acessível para diferentes níveis de conhecimento e com durações que vão de 20 minutos a 1h30.
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É tudo clickbait
Tem um inventário imenso de publicidade sendo entregue em sites de clickbait. Sim, aqueles sites que prometem dietas milagrosas e soluções mágicas para quedas de cabelo e afins. São sites de baixíssima qualidade de conteúdo criados para ranquear alto no Google e entregar muitos (MUITOS) anúncios, e assim fazer dinheiro com ads de muitas marcas que nem sabem que estão aparecendo lá. Segundo um novo report da Adalytics, a prática continua em alta. Em alguns casos, 2.100 impressões de uma campanha foram entregues para um mesmo usuário em menos de 1 hora. Mas uma razão para fazer sempre aquele questionamento amigo: você sabe onde os seus anúncios estão sendo entregues ou só está olhando para os resultados?…
É CASE QUE VOCÊ QUER, @?
Então se inspire aqui nesse exemplão de conteúdo.
Quantos anos o meu cachorro tem em idade de humano? É uma pergunta que todo mundo faz, mas curiosamente só a Pedigree dedicou tempo a desenvolver uma calculadora para dar essa resposta. A iniciativa é boba de tão simples, mas entrega o que promete e ainda relaciona o resultado a outros conteúdos sobre cuidados com os pets, além de incentivar a inscrição em uma newsletter que envia outros textos sobre o tema (e ofertas, é claro). Um bom exemplo de como o simples e bem feito pode passar despercebido por muitas marcas de um setor…
BOCADITOS
Links rápidos para leituras demoradas.
• O fim da era do Mr.Beast no YouTube [Polygon]
• O custo de infâncias transformadas em conteúdo [Cosmopolitan]
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Por Alberto Cataldi, head estrategista de conteúdo e jornalista. Me segue lá no Linkedinho que também compartilho coisas deste universo (e memes).
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