RECHEIO — O fim do Google
#️⃣ Edição 88
Há uma grande mudança acontecendo desde novembro de 2022. Ela tem sido progressiva e causado um impacto enorme, mas nem perto do que ainda vai causar.
Estamos presenciando a morte de um gigante que durante muito tempo foi associado com a ideia de usar Internet.
Sim, estamos vendo o fim do Google.
Assim como o fim as redes sociais, que simbolizavam uma era da vida online que não existe mais, a morte da maior ferramenta de busca de todos os tempos pode parecer absurda. Mas é real. E pode demorar para terminar, mas já sabemos como começou.
Sabe o que aconteceu na tal data que marca o início do fim? O lançamento do ChatGPT para o público.
O impacto foi imediato.
Em menos de 2 meses, pessoas já estavam usando o novo modelo de Inteligência Artificial para tirar dúvidas e responder perguntas de forma muito mais direta, objetiva e personalizada do que o Google jamais conseguiria.
Enquanto a Alphabet se atrapalhava buscando uma maneira de colocar a IA em seus produtos, a Microsoft anunciou um investimento bilionário na OpenAI em troca de colocar a tecnologia em sua ferramenta de busca, o esquecido Bing.
O Google até correu atrás. Lançou o Bard, que prometia ser uma experiência de assistente de busca inteligente. Mas era tarde demais, pois o maior problema para a plataforma de busca já não era sobre os concorrentes usando IA, mas o uso por pessoas.
Estou com sorte?
Mudanças no algoritmo de busca tentavam priorizar a entrega de conteúdos úteis em formatos que fizessem o usuário nem precisar sair da página de resultados.
A consequência foi que muitos sites desenvolveram maneiras de ranquear bem ao falar de produtos, mesmo que os conteúdos tivessem baixíssima qualidade (o que foi provado em uma pesquisa acadêmica feita entre outubro de 2022 e setembro de 2023).
É um dos motivos para os resultados do Google estarem tão ruins desde o ano passado.
Demonstrar autoridade, conhecimento e profundidade em temas específicos era um caminho simples para ranquear, desde que pudesse ser feito em escala e, de preferência, copiando os conteúdos de outros sites.
Imagina então as possibilidades que a Inteligência Artificial generativa trouxe…
O Google não cumpriu nenhuma das duas missões direito: não criou uma busca integrada à IA, nem um sistema que consiga identificar e eliminar páginas criadas com IA apenas com o objetivo de aparecer no topo das buscas.
A prioridade foi preservar o negócio e não a qualidade do produto, e com isso ele perdeu a confiança, o pioneirismo no setor e a preferência do público.
Agora, tarde demais, anuncia uma Core Update que será transformadora para melhorar os resultados de busca. Uma espécie de correção do problema sem admitir que há um problema. Deve demorar meses para concluir e, na minha opinião, não na velocidade necessária para acompanhar a evolução vertiginosa das ferramentas de IA.
É um jogo perdido.
O comportamento de busca já havia começado a mudar quando os celulares criaram uma necessidade de respostas mais diretas, objetivas e contextualizadas. Com uma web mais descentralizada e baseada em vídeo, o problema se agravou. O ChatGPT acelerou tudo isso ainda mais e, assim, a busca como conhecemos morreu.
Com ela, O Google como conhecemos.
E eu, assim como muita gente online, tive um vislumbre disso em um vídeo viral há alguns meses. Nele, uma mãe pergunta para a filha onde ela pesquisa as coisas. O que ela responde?
Tira as dúvidas pesquisando no TikTok e, para as lições da escola, usa o ChatGPT.
E fim.
Para ler uma análise aprofundada sobre os dilemas de negócio da Alphabet, recomendo demais o post da última semana do Scott Galloway. E sim, ele também acredita que o fim está próximo… Mas que há salvação.
RECHEADA DE INFORMAÇÃO
Muito tem se falado do Reddit depois do anúncio de que a empresa vai fazer seu IPO. O fórum tem angariado uma base fiel de usuários e moderadores há anos, mas, desde 2023, tem ganhado novos a partir de buscas por conteúdos muito específicos sobre dúvidas gerais. Mais um sinal de que a conexão mais direta entre pessoas que as redes sociais perderam está se tornando chave de sucesso em outras plataformas.
TÁ QUENTINHO
As principais novidades e tendências do mundo do conteúdo
LinkedIn turbinado
Eu falei há algumas edições sobre como o LinkedIn vem se tornando uma ótima rede para entrega de conteúdos. Em uma entrevista recente à Entrepreneur, os diretores da plataforma deram mais detalhes sobre como mudanças no algoritmo levaram a isso. Basicamente, a ideia é valorizar mais os conteúdos perenes e torná-los referência dentro de temas específicos (como “marketing de bebidas”, “gestão em saúde”, por exemplo). Dessa forma, posts que tenham relevância dentro de algum setor podem ter o alcance potencializado por semanas ou meses através de sugestões no feed.
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TV x Online
A Kantar IBOPE Media passou a disponibilizar um relatório mensal sobre share de audiência de TV x streaming no Brasil. Janeiro já traz dados bem interessantes que reforçam uma tendência que eu trouxe na RECHEIO da semana passada: 69,2% das pessoas assistiram TV linear no mês, enquanto 30,8% viram vídeos online. Desse segundo grupo, a esmagadora maioria (18,2%) estavam no YouTube. O TikTok ficou só no terceiro lugar (4%), atrás (mas não muito) da Netflix (4,9%). Quando os dispositivos são TVs conectadas, são menos pessoas no streaming: 18,9% contra 81,1% da programação linear. Tudo isso aponta que o YT ainda é a plataforma que melhor desempenha em qualquer dispositivo e que a restrição do TikTok apenas ao mobile limita suas possibilidades de crescimento de audiência…
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Nas trends do TikTok
Quando o papo é trends, aí o TikTok sabe o que faz. A plataforma consegue viralizar conversas nichadas como nenhuma outra e gerar oportunidades para praticamente qualquer tema alcançar milhões de pessoas. Essa potência toda pode complicar na hora de pensar em estratégias para surfar as ondas. Mas um guia bem legal lançado por eles ajuda a estruturar um vídeo para aproveitar os “trends signals”, ao invés de “trend moments”. Basicamente, ao entender a razão de uma onda, as marcas conseguem entrar nela de maneira mais proprietária e efetiva. O link ainda oferece alguns exemplos práticos, vale ler e testar!
É CASE QUE VOCÊ QUER, @?
Então se inspire aqui nesse exemplão de conteúdo.
No Glassdoor, você pode encontrar informações sobre como é trabalhar nas empresas, opiniões de funcionários, médias de salários no mercado e referências de atuações no setor. Ou seja, é o lugar para você pesar sobre sua carreira, certo? Pois é o que o blog deles reforça com conteúdos sobre entrevistas de emprego, modelos de trabalho e dicas de oportunidades. É basicamente uma versão moderna do que eram os antigos cadernos de empregos dos jornais (🧓). Eles fazem até uma lista anual das melhores empresas para trabalhar, com base em dados proprietários da plataforma. Uma pena que a versão brasileira do blog esteja sem atualização desde 2020…
BOCADITOS
Links rápidos para leituras demoradas.
• Como as agências dos EUA estão se preparando para o impacto da Sora (spoiler: demitindo) [Adweek]
• Report sobre as tendências de comunicação em mensagens diretas [Customer.io]
Obrigado pela leitura!
Esta é a newsletter RECHEIO. Toda quinta-feira, às 07h08, conteúdo que importa direto no seu e-mail.
Por Alberto Cataldi, head estrategista de conteúdo e jornalista. Me segue lá no Linkedinho que também compartilho coisas deste universo (e memes).
Quero saber o que achou! É só responder este email. Mande elogios, dúvidas e críticas.
Até a próxima!
Falando em busca, tenho ouvido MUITA gente falar que usa mais o TikTok pra fazer suas pesquisas que o Google. Não tá fácil pro buscador.