RECHEIO — Distraídos
#️⃣ Edição 87
Você tem se distraído com facilidade?
Pode ser na hora em que você recebe uma notificação enquanto está em uma tarefa e acaba se perdendo nas mensagens.
Ou quando você tenta ler um livro, mas não consegue avançar por muitas páginas pois acaba se lembrando de outra coisa.
E quando você sai navegando sem rumo pela tela da Netflix em busca de algo pra ver e parece que entra em um transe?
O mundo todo está vivendo assim. Se em 2004 nosso tempo médio de atenção era de dois minutos e meio, hoje está em 47 segundos.
São os sinais de que a estratégia das empresas que querem a sua atenção está dando certo. Um mundo digital onde, se antes o importante era manter seu engajamento com envolvimento, agora basta que você repita ciclos de rodar a tela, clicar em botões e reagir a estímulos.
Me desculpe se eu pareço meio apocalíptico. Meu papel aqui sempre é o de analisar. E uma tendência tem se consolidado ao longo dos últimos meses com o avanço da criação de conteúdo com Inteligência Artificial e do entretenimento como ferramenta de atenção: a distração como padrão.
Onde começa
O consumo da nossa atenção em larga escala começou com o domínio do TikTok — onde você passa, em média, 34 horas por mês (mais de 1 hora/dia). A verdadeira Fábrica de Atenção que conseguiu sistematizar as melhores maneiras de medir engajamento, transformar em dados e usá-los para entregar mais conteúdo e realimentar o ciclo.
Toda essa dopamina tem educado a gente a se distrair para ter satisfação instantânea. Recebendo uma DM no Instagram, ganhando uma graninha num app de bet, pinando looks no Pinterest…
Mas muitos desses estímulos dependem de interação humana. Ou melhor, dependiam…
Oi, robô
Agora, com a possibilidade de criar textos e filmes inteiramente com IA, estamos prestes a viver uma realidade onde a distração pode ser totalmente personalizada.
Imagina o Netflix te entregando uma série sobre tudo o que você gosta, com episódios infinitos, mas ela foi feita só para você a partir dos seus algoritmos?
E imagine que você está vendo essa série no Apple Vision Pro, que cobre todo o seu campo de visão e garanta que a sua distração não vai ser interrompida por nada do mundo real?
Mas não acho que vai ser o fim de tudo, não. Só uma fase bem chata onde muita produção de baixa qualidade vai criar ruído na nossa rotina. E com muita frustração para o público.
Se o progresso das redes sociais nos últimos 20 anos ensinou algo pra gente, é que o comportamento das pessoas muda sempre que uma cultura se torna muito prevalente.
Toda essa distração e o prazer proporcionado pelo entretenimento rápido e sem fim começa a construir uma busca por mais significado, profundidade e sentido.
Na criação do conteúdo (com ou sem ajuda de robôs) o foco deve ser não pelo retorno através do hábito. O conteúdo deve construir envolvimento, entregando valor real para o público e ajudando a fortalecer o propósito da marca.
Afinal, com uma internet potencializada por gadgets e IA que podem criar tudo o que for imaginado, números e métricas vão ser fáceis de atingir. Mas conexões reais com pessoas vão ter muito mais valor.
RECHEADA DE INFORMAÇÃO
TÁ QUENTINHO
As principais novidades e tendências do mundo do conteúdo
TikTok sem música
A música sempre foi parte do DNA do TikTok — o app viralizou inicialmente com vídeos de dublagem e, depois, com as famosas dancinhas — então tem imenso impacto a notícia de que a Universal Music Group vai retirar suas obras licenciadas da plataforma após uma longa disputa por royalties que não está se resolvendo. Segundo a ByteDance, cerca de 30% das músicas do app seriam perdidas. Mas, dado o tamanho do catálogo da distribuidora, especula-se que a fração está mais para 80%. A história aponta para algo já esperado: o TikTok deve, aos poucos, retirar a dependência musical de sua experiência e investir em novas frentes. Os testes com lives, vídeos longos (podcasts?) e vitrine de vendas são parte disso.
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O YouTube domina
Um novo levantamento da Nielsen nos EUA mostrou que o YouTube é o streaming mais assistido nas TVs do país. A dominância já tem um ano, mas está crescendo e chegou a 8,6% de share em janeiro, deixando a Netflix na segunda posição, com 7,9%. Segundo dados da própria plataforma, o YT já acumula mundialmente a média de 1 bilhão de horas assistidas diariamente na televisão. Ou seja, já é a nova TV dentro da antiga TV. Se você trabalha a plataforma de vídeos na sua estratégia, vai notar esse comportamento nos seus insights, destacado principalmente pela audiência à noite em aos finais de semana. Quer explorar isso bem? Trabalhe conteúdos com imagem muito bonita (afinal, as TVs 4K já são mais da metade do mercado brasileiro) e duração longa (20 minutos ou mais).
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Link bem
O Google atualizou sua seção sobre boas práticas para uso de links. Então se você quer garantir um bom trabalho do robozinho ao passar pelo seu site e ranquear alto, é bom dar uma olhada em como garantir que as tags html estão dentro do recomendado. Vale destacar a orientação de não escrever textos âncora genéricos e, sempre que possível, usar os links em textos longos e bem descritivos — como eu fiz justamente neste parágrafo :)
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Geração Z Millennials no TikTok
Um estudo do Pew Research Center revelou que, nos EUA, apenas 25% dos usuários do TikTok criam o equivalente a 98% de todos os conteúdos da plataforma. O típico frequentador do app raramente posta por lá e, o mais interessante, quem é mais ativo costuma ser mais velho (35 a 49 anos), mesmo com a maioria dos usuários sendo jovens (18 a 34 anos). Isso tem levantado várias análises sobre como o TikTok é muito mais millennial do que Geração Z — o que não deveria vir como um choque, já que há quase 2 anos os dados já mostram que a maioria dos 13+ usam muito mais o YouTube. No Brasil, os dados ainda são escassos, mas já sabemos que o comportamento do YT se repete e a preferência pelo WhatsApp é insuperável na Gen Z.
É CASE QUE VOCÊ QUER, @?
Então se inspire aqui nesse exemplão de conteúdo.
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BOCADITOS
Links rápidos para leituras demoradas.
• O Twitter (X) hoje é basicamente ocupado por bots de IA [ABC News]
• Trend: conteúdos positivos estão em alta [Google]
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Por Alberto Cataldi, head estrategista de conteúdo e jornalista. Me segue lá no Linkedinho que também compartilho coisas deste universo (e memes).
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