RECHEIO — O que passou, passou
#️⃣ Edição 81
2023 não foi um ano, mas vários.
Isso pode parecer filosofia, mas é a constatação bem clara que fica ao analisar os conteúdos mais consumidos, compartilhados e engajados das plataformas neste ano que está terminando.
Cada vez mais, a criação e consumo de conteúdo (gratuito ou pago) vem se tornando a razão de ser da internet e da nossa vida em rede. Todo mundo (meio que) sempre fez conteúdo na web, mas isso foi se tornando mais sofisticado e constante, transformando apps como YouTube e TikTok em preferências esmagadoras de consumo de entretenimento, informação ou educação.
Se antes olhar os relatórios de encerramento de ano era mais para causar um efeito Retrospectiva (“Hoje é um novo dia, de um novo tempo…”), agora esses recaps se tornaram uma forma importante de entender onde estávamos há 365 dias e onde estamos hoje. Comportamentos mudam, preferências mudam, opiniões mudam… Tudo isso baseado no conteúdo que a gente consome. Viu a importância?
Wikipédia
É lá que as pessoas aprendem, tiram dúvidas e tentam entender do que é que todo mundo está falando. Ele segue firme como o 7º site mais visitado do mundo, atraindo mais de 26 bilhões de views por mês. Se alguém quer aprender algo de maneira rápida, é para lá que ela vai.
E a lista dos artigos mais visitados da Wikipédia nos EUA dá o tom do que foi este 2023:
ChatGPT não apenas foi a página mais visitada, com mais de 49 milhões de views, como manteve um volume consistente de visitas desde o início do ano (entre 100 mil e 400 mil por dia). Quando somadas todas as versões de idioma, o número de pageviews anual chega a 78 milhões.
O restante da lista é dominado por eventos, marcas e pessoas do entretenimento: O Mundial de Críquete, os filmes Oppenheimer e Barbie, A série Last of Us e Taylor Swift. Todos fenômenos que dominaram o mundo e motivaram as pessoas a entendê-los. O que me deixa ainda mais curioso em saber: o que será que as pessoas mais buscaram/perguntaram no ChatGPT em 2023?
Google
Talvez o recap mais tradicional, as Pesquisas do Ano do Google dividem os temas mais buscados em categorias e regiões do globo. Aqui no Brasil, a Copa do Mundo Feminina liderou em eventos, enquanto Kayky Brito e Larissa Manoela lideraram em personalidades.
Mas o que eu quero destacar mesmo é o campo dos Memes mais buscados: “Indo ali”, “Fake Natty” e “Suquinho de Maracujá” são todos virais que aconteceram no TikTok. Inclusive, quem não frequenta muito o app não deve nem ter ideia de quais são eles. A plataforma mostrou seu poder de pautar conversas fora dela, mas através de atingir nichos muitas vezes difíceis de mapear por quem está de fora.
TikTok
Ou seja, vira obrigação saber o que foi trend dentro da plataforma de vídeos que mais cria trends atualmente. O app tem um diferencial crucial na sua maneira de listar os mais vistos: a aba Para Você, que recomenda conteúdos com base em um algoritmo sofisticadíssimo de identificação de preferências. Foi assim que a lista de 2023 ficou no Brasil:
@gabryellurlan: Gabryell brilhou com muito humor ao interpretar o canto dos pássaros pela manhã.
@luvadepedreiro: Sucesso internacional, o Luva demonstra toda sua habilidade com a bola no pé.
@danichoma: Dani ensina a receita de um lanche de deixar qualquer um com água na boca.
@blogdacora: Em um vídeo lindo, Coracy mostra que a beleza não é uma questão de idade!
@jullymolinna: Jully Molinna compartilha a saga da sua piscina que mais parece uma obra de arte.
Curioso perceber que a lista é feita inteiramente de conteúdos simples, despretensiosos e de grande apelo. Diferente do que o YouTube construiu nos anos passados, o TikTok realmente tornou acessível a produção e distribuição de entretenimento casual. E não tenho dúvida que isso vai se perpetuar em 2024.
YouTube
E falando nele, o ano não acaba oficialmente enquanto não sai o vídeo de retrospectiva do YT. Em 2023, a lista de mais vistos global reforça a consolidação de fenômenos dos EUA pelo mundo (Barbie, Taylor Swift, MrBeast). Mas o recorte brasileiro crava uma tendência que já vinha se construindo desde o crescimento do Cazé como símbolo de lives: o YouTube virou o lugar para consumir futebol e assuntos relacionados ao esporte. Algo que vem crescendo desde que a TV Globo deixou de ter direitos exclusivos sobre campeonatos.
Os vídeos de jogos passaram a dividir espaço com clipes de música e conteúdos virais, ambos mais tradicionais nas listas dos últimos anos. Os YouTubers estão perdendo espaço — ou pelo menos deixando de ter domínio absoluto sobre o que é mais visto por lá.
Netflix
Esta não é uma lista do ano, mas vale destacar aqui. Pela primeira vez, a Netflix compartilhou dados de engajamento em relação aos conteúdos de sua plataforma. A promessa é dividir a informação semestralmente, dando acesso a lista completa de tudo o que é disponibilizado na plataforma e quanto cada conteúdo foi visto nos seis meses anteriores. A primeira lista divulgada considera de janeiro a junho deste ano e é interessantíssima. Por exemplo, ela conta com 18.220 produções (entre séries e filmes) e as menos vistas contaram com 100 mil horas vistas.
O Top 10 global é dominado por séries e “O Agente Noturno”, que não parecia fazer tanto barulho quanto outras como “Wandinha”, ficou no topo:
The Night Agent: Season 1
Ginny & Georgia: Season 2
The Glory: Season 1 // 더 글로리: 시즌 1
Wednesday: Season 1
Queen Charlotte: A Bridgerton Story
You: Season 4
La Reina del Sur: Season 3
Outer Banks: Season 3
Ginny & Georgia: Season 1
FUBAR: Season 1
Agora sim, o ano pode acabar. Mas não antes da próxima edição da RECHEIO, a última de 2023. Não vai perder.
TÁ QUENTINHO
As principais novidades e tendências do mundo do conteúdo
LinkedIn News
Parece que foi ontem que o LinkedIn anunciou que iria apostar em newsletters. Divulgou uma série de recursos e incentivou vários parceiros a publicarem seus conteúdos por lá. Mas o serviço não cresceu muito e o retorno para os creators foi decepcionante (embora os dados oficiais sejam de 500 milhões de assinantes para mais de 146 mil news). A plataforma está tentando corrigir isso agora com novas funcionalidades: analytics mais detalhados para medir a performance, opção de duplicar edições anteriores, preview melhorado e verificação de autor. Melhorias bem vindas, mas que ainda parecem só rascunhos do que plataformas como Substack e Beehive já oferecem. Alguém avisa o LinkedIn que newsletters não são mais uma onda, e sim um negócio sério.
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YouTube Jovem
Quer falar com adolescentes? Vá pro YouTube. Uma nova pesquisa da americana Pew Research demonstrou que a plataforma de vídeos segue como o destino nº 1 para jovens de 13 a 17 anos nos Estados Unidos. Houve uma pequena queda em relação a 2022, mas nada que coloque em risco o domínio do site. TikTok ficou com a segunda colocação, seguido do Snapchat, que ainda é muito forte nos EUA e ultrapassou o Instagram, que desceu para a quarta colocação. Todos esses, aliás, com várias visitas diárias dos usuários teens.
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WhatsApp
O ZapZap (dsclp) liberou uma função para fixar mensagens em grupos de conversa. O recurso é tão óbvio que parece até que já existia e a gente não sabia, não é mesmo? Basta clicar no menu da mensagem e selecionar para pinar no topo. Uma faixa fica fixa no alto do chat para que ninguém perca a mensagem. Um recurso maravilha para quem usa grupos de WhatsApp na estratégia de conteúdo. Aliás:
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Vem de DM
Já faz um tempo que eu venho analisando aqui como as redes sociais deixaram de ser sociais no feed e estão apostando cada vez mais em recursos de DM — afinal, aparentemente todas as interações reais estão rolando nas mensagens privadas. Entre os testes novos do Instagram está o Flipside, um tipo diferente de perfil, feed e grupo onde só entra quem é autorizado. Parece ser uma maneira para os seguidores acompanharem um aspecto específico do perfil, como por exemplo alguém que é creator de moda, mas também curte falar sobre culinária. Mais íntimo, próximo e limitado do que as redes sociais se tornaram.
É CASE QUE VOCÊ QUER, @?
Então se inspire aqui nesse exemplão de conteúdo.
A Caterpillar (ou Cat, para os íntimos) é uma referência global em maquinário pesado de construção. Com o passar dos seus mais de 98 anos de história, ela conseguiu se firmar como uma verdadeira marca de lifestyle, transmitindo valores de durabilidade, produtividade, exploração e humor. Tudo isso funciona de maneira muito legal na série Cat Trials, vídeos produzidos para mostrar seus produtos em desafios diferentes. Tem tratores brincando de jenga, retroescavadeiras pegando um celular (sem danificar!), compactadores montando castelos de areia… A série é antiga e as atualizações ficaram pouco frequentes, mas, quando acontecem, ainda agitam os fãs e o nicho de máquinas pesadas.
BOCADITOS
Links rápidos para leituras demoradas.
• ChatGPT está construindo o futuro. Mas que futuro é esse? [The Verge]
• Os 21 melhores memes de 2023 [The Rolling Stone]
• Por que as TVs a cabo dos EUA estão abandonando conteúdos novos? [The New York Times]
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Por Alberto Cataldi, head estrategista de conteúdo e jornalista. Me segue lá no Linkedinho que também compartilho coisas deste universo (e memes).
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